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Marcos 16:15
Trabalhar um dia a menos por semana para “salvar o mundo”
Postado em 31/Julho/2020
Se todas as pessoas no mundo consumissem o mesmo nível de combustível, comida, roupa e material de construção que os europeus, seriam necessários 2,8 planetas Terra. Se todos adotassem o estilo de vida americano, precisaríamos de cinco planetas equivalentes ao nosso. Sem dúvida, estamos vivendo de maneira insustentável – seja quando nos deslocamos, ganhamos ou gastamos dinheiro. No ano passado, o chamado Dia da Sobrecarga da Terra chegou mais cedo do que nunca, em 29 de julho. Ele marca o dia em que a demanda da humanidade por recursos naturais excede o que o planeta é capaz de fornecer em um ano, de acordo com a organização internacional Global Footprint Network. A última vez que conseguimos chegar até dezembro foi em 1972.
Há uma nova teoria, no entanto, que sugere que é possível reverter esse cenário: devemos trabalhar menos, desacelerando assim a economia global e diminuindo nosso apetite aparentemente insaciável por consumo. Mas será que isso é viável – e realmente salvaria o mundo?
Mudar nossos hábitos de trabalho em escala global é uma tarefa monumental. O americano médio trabalha 44 horas por semana e tem apenas 10 dias de férias. Na China, uma jornada de 72 horas, seis dias por semana é comum. E, no Japão, se trabalham tantas horas por dia que existe até uma palavra para “morte por excesso de trabalho”: karoshi.
No entanto, uma análise da Universidade Amherst de Massachusetts, nos EUA, argumenta que “trabalhar menos é bom para o meio ambiente”. O estudo afirma que se passássemos 10% menos tempo trabalhando, nossa pegada de carbono seria reduzida em 14,6% – em grande parte devido à diminuição dos deslocamentos diários e do consumo de alimentos processados nos intervalos. Um dia inteiro de folga por semana reduziria, portanto, nossa pegada de carbono em quase 30%.
Costumamos culpar a indústria e grandes empresas pelas mudanças climáticas. Mas a maneira como vivemos, trabalhamos e consumimos é, na verdade, a principal fonte de emissões. […]
A ideia de semanas de trabalho mais curtas aliadas ao crescimento sustentável está começando a ganhar força. No ano passado, quase um milhão de metalúrgicos na Alemanha ganharam o direito a trabalhar 28 horas por semana (a jornada deles antes era de 35 horas semanais), enquanto o Partido Trabalhista do Reino Unido (o segundo maior partido no Parlamento) flerta com a ideia de uma jornada de trabalho de quatro dias por semana.
Will Stronge, cofundador e diretor da Autonomy, centro de estudos voltado para o futuro do trabalho, defende o crescimento sustentável. Ele cita o exemplo recente de funcionários dos correios do Reino Unido que pleitearam com sucesso por uma redução na jornada de trabalho de 39 horas para 35 horas semanais, mantendo o mesmo salário.
“Em muitas empresas, se você disser que vai reduzir o salário […] mas compensar com um dia extra de folga, a maioria dos funcionários não terá condições de aceitar.”
Do ponto de vista ambiental, ele diz que “o consumo de eletricidade [nacionalmente] diminui bastante nos fins de semana e feriados”, sugerindo que há ganhos de eficiência energética ao se trabalhar menos.
Outra defensora do crescimento sustentável, Alice Martin, chefe de trabalho e remuneração da New Economics Foundation, acredita que “se você diminuir a carga horária de trabalho mantendo o salário, as evidências sugerem que isso tem efeitos positivos na redução das emissões de carbono”.
Segundo ela, diminuir em 20% as horas trabalhadas se traduz em uma redução semelhante nas emissões de carbono – devido a mudanças de comportamento, como menos deslocamentos diários, comer comida caseira em vez de alimentos processados e passar mais tempo localmente, até se envolvendo em trabalhos voluntários.
“Ter mais tempo na vida para fazer as coisas de que você realmente gosta pode resultar em uma mudança de estilo de vida, fazendo com que você, na verdade, pare de consumir tantos produtos com alto teor de carbono”, diz ela. […]

(BBC Brasil)
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